quarta-feira, 13 de abril de 2016

Impeachment sem crime

Leiam com atenção. Vejam sem preconceito. O que está em jogo é muito maior que o PT ou a Dilma.

 

Vivemos em um Estado Democrático de Direito.


E em um sistema presidencialista, em que o Presidente é eleito pelo povo e, retirá-lo do Poder, sem o povo, somente em situações extremamente graves.


 Não pode ter impeachment por mera razão política, porque isso é um atentado à soberania popular e aos votos de 54 milhões.


O impeachment só é possível quando há INDUBITAVELMENTE crime de responsabilidade atribuído diretamente à Presidente da República. Tem que ser um ATENTADO à Constituição.


O crime deve ser realizado PESSOALMENTE pelo Presidente da República


Sem essas condições, é GOLPE.



Um golpe fragiliza. O mundo observa. 


E o governo que surge a partir de um golpe é ilegítimo, independente da qualidade das pessoas que venham assumir. O poder deste governo não emana do povo, como diz a constituição.  


Este processo de impeachment está manchado desde o princípio. Foi aceito por vingança do Dep. Eduardo Cunha, que não teve seu processo de cassação suspenso no Conselho de Ética. 


O abuso de poder que caracterizou o início do processo continuou ao longo do tempo.


No processo aceito, estão relatados dois fatos completamente diferentes, que intencionalmente se confundem para transformar em crime uma ação corriqueira da administração pública.



Os decretos suplementares não aumentam os gastos. O ato que regula o dinheiro é o decreto de contingenciamento. 


Não há relação entre esses decretos e a meta fiscal. 


O outro fato é o que tem sido chamado de pedalada. São atrasos nos pagamentos no âmbito de um contrato. 


Não é um empréstimo. Empréstimo há transferência de recursos do emprestador para aquele que toma o empréstimo. 


O Tribunal de Contas sempre admitiu isso. Mudou a regra no meio do jogo e quer retroagir. 


NÃO HÁ CRIME. Impeachment sem crime, É GOLPE.




quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Objetivos do Milênio pós-2015: por um objetivo de reduzir as desigualdades.

No Facebook de José Eduardo Roselino, professor da Universidade Federal de São Carlos, a quem tive a honra de contar na banca de minha dissertação de mestrado, encontrei o artigo que aqui publico. Trata-se de um texto em defesa da inclusão de um objetivo relacionado à redução das desigualdades na reformulação dos Objetivos do Milênio (ODM), que termina em 2015. O Brasil, por sua trajetória recente, poderia liderar a defesa de inclusão do combate às desigualdades no centro do debate político mundial.
O artigo argumenta que aumentou a preocupação com as desigualdades nos últimos anos e esta discussão tem sido inevitável quando se debate desenvolvimento humano. Ele lista uma série de motivos para ter foco na desigualdade:
1) Os progressos recentes em termos de redução de pobreza e bem-estar social em muitos países em desenvolvimento não tem beneficiado os mais pobres de maneira substancial. Por exemplo, quando a mortalidade infantil é desagregada, observa-se que grupos mais vulneráveis estão atrás na média nacional. Um aparte para um paralelo às situações observadas no Brasil, se se desagrega a mortalidade infantil da cidade de São Paulo, por exemplo, a mortalidade infantil da cidade é de 11,31 por mil nascidos vivos (inferior a do Brasil), mas há distritos da cidade em que este índice chega próximo a 20 por mil nascidos vivos. Podemos citar também o lançamento pelo Governo Federal no início de 2010 do Programa Brasil Sem Miséria, que tem o objetivo de levar as políticas públicas aos mais pobres dentre os pobres, partindo da constatação de que estes segmentos não avançaram na mesma velocidade que os demais.
2) Novos estudos mostram que altos níveis de desigualdade impedem estabilidade social e desenvolvimento econômico. O acúmulo de capital pelos mais ricos não é garantia de que investimentos produtivos serão realizados, gerando crescimento e prosperidade para todos. Pelo contrário, desigualdades podem criar frustração e conflitos sociais que desencorajam o investimento.
3) Há previsões de que disparidades severas de renda serão provavelmente fatores de perturbação nos próximos 10 anos. Até o último encontro do “World Economic Forum”, que reúne em Davos líderes de governo e de empresas, identificou as desigualdades como o mais provável risco à estabilidade e ao desenvolvimento global dentre 50 fatores de risco analisados.
4) Com a globalização e maior integração entre os países, a desigualdade global tem se tornado cada vez mais notável e ilegítima. Quando menos de 2% ganha o mesmo que três quartos da população mundial, a distribuição global da renda não reflete o esforços, mas uma enorme desigualdade de oportunidade.
5) O rápido desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação facilita a disseminação das informações referentes às desigualdades. Atos de injustiça são disseminados a milhões de pessoas muitas vezes em horas. Isto faz com que a percepção das desigualdades seja muito maior do que era 20 anos atrás.
O artigo prossegue afirmando que, apesar de ser um tema inevitável, trata-se de um tema bastante sensível politicamente (comentário nosso: por sensível politicamente leia-se contraria interesses econômicos do topo de cima da pirâmide que tem uma relação bem próxima ao poder político). Houve um encontro, em fevereiro de 2013, com ministros de 20 países, que chegaram a um acordo geral que (i) a igualdade de gênero é um tema relevante;(ii) serviços sociais básicos deveriam ser universais; (iii) todos os objetivos do milênio a serem desenvolvidos em 2015 devem ser desagregados para permitir o monitoramento dos grupos mais vulneráveis. Não houve, no entanto, nenhum consenso de que deveria existir um objetivo relacionado à desigualdade.
Para alguns, a redução das desigualdades ou o aumento da igualdade são associados à uniformidade, falta de liberdade e comunismo. Para rebater estas ideias, segundo o texto, um objetivo de redução de desigualdade deve ser coloca de uma forma que enfatiza a diversidade e a liberdade. Um argumento que ele coloca é que a redução das desigualdades e a liberdade podem e devem andar juntas uma vez que a liberdade dos mais pobres está consideravelmente restrita atualmente pelas suas condições.
Os defensores da igualdade de gênero, por sua vez, vêem um risco de verem sua pauta recebendo menor atenção se um objetivo mais geral de reducão de desigualdades é estabelecido pelas questões da discriminação e desigualdades de renda.
Apesar destas reservas, prossegue o texto, um objetivo específico para as desigualdades no próximo período é necessário. Irá dar luz às diversas barreiras estruturais que inibem o desenvolvimento assim como a estabilidade social e o crescimento econômico; irá estimular uma discussão anual sobre as desigualdades, uma vez que serão monitoradas. Se esta questão for negligenciada, a legitimidade dos objetivos do milênio podem ficar seriamente comprometidas. O texto prossegue com uma discussão conceitual sobre as desigualdades e sobre indicadores que permitiriam medi-las, que não me aprofundarei neste espaço, mas segue o link caso tenha ficado interessada (o).
Segue o link: http://en.diis.dk/home/news/2013/inequality+and+the+post-2015+development+framework

domingo, 29 de setembro de 2013

A PNAD e a política

O IBGE divulgou esta semana os resultados da PNAD 2012. Embora não seja possível definir uma tendência, ela permite formular hipóteses que são centrais para a interpretação do momento atual no Brasil, as tendências e os embates políticos que precisam estar na agenda dos próximos anos.

Em termos da renda, observou-se um crescimento muito acima do crescimento do PIB. Sendo assim, a percepção dos ganhos dos brasileiras não apresentaram relação direta com o crescimento do PIB. Outro fator é que este crescimento de renda se deu com pequena alteração no Índice de Gini, e, em algumas regiões como o Nordeste, o coeficiente de Gini aumentou.

Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência da República, veio a público para dizer que a estagnação na redução da desigualdade, que aparece na PNAD 2012, retrata um "equívoco" das políticas de transferência de renda do Governo Federal. O governo, por sua vez, enfatiza a série histórica em relação à desigualdade e os dados da PNAD que apontaram que diminuiu o desemprego e aumentou o rendimento real em todas as regiões.

A disputa de interpretação dos resultados da PNAD entre governo e oposição acaba por travar o debate público transparente que poderia trazer uma melhor interpretação da situação do país. Quando tudo que é dito é imediatamente cravado na imprensa como vitória/derrota, avanço/recuo, sem espaço para contextualizar e ir a fundo nos problemas, esse se transforma no comportamento padrão.

A estratégia de Aécio de atribuir a equívocos das políticas de transferência de renda a estagnação observada na PNAD demonstra uma falta de conhecimento tão grande do papel desempenhado por estes programas que me espanta que venha de alguém que postula seriamente a Presidência da República. Como não acredito em falta de conhecimentos tão básicos em um Senador da República e ex-governador de Minas Gerais, a afirmação tem o simples objetivo de manipulação, ignorando fatos para obter um suposto dividendo eleitoral, que insiste em não vir. É uma fala para os convencidos de que estes programas são um mal para o país, o que está longe de ser a maioria da população.

Feito esse desabafo, a pergunta que gostaria de discutir é sobre os limites dos impactos do lulismo na redução das desigualdades.

Em 2012, chegamos ao menor nível do Índice de Gini desde que ele começou a ser medido: 0,498. Em 2004, era de 0,535, lembrando que quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. Estes resultados foram obtidos por meio de uma série de políticas que, em seu conjunto, levaram a este resultado. Em resumo, 3 fatores contribuíram mais fortemente para este resultado: programas de transferência de renda, injetando bilhões de reais nas famílias mais pobres em locais de economia frágil; a valorização do salário mínimo acompanhada do aumento do número de pessoas no mercado formal de trabalho; e a redução da taxa de desemprego. 

A PNAD apontou que a política valorização do salário mínimo continua tendo efeitos no aumento da renda do brasileiro. Enquanto o PIB cresceu 0,9%, a renda média subiu 8,9%. No entanto, o coeficiente de Gini teve uma ligeira queda, o que mostra que os ganhos não beneficiaram com maior intensidade os extratos mais pobres da população.

Isso coloca a pergunta se chegamos ao limite do que este modelo é capaz de contribuir para a redução das desigualdades. O rendimento continua subindo, a vida das pessoas melhorando, mas a distância entre elas mantém-se inalterada, significando que podemos ter chegado a um ponto de equilíbrio. Sendo o Brasil um dos países mais desiguais do mundo, esta constatação pode ser um problema.

Se é verdade que atingimos um ponto de equilíbrio na redução da desigualdade e que estas políticas públicas terão, daqui para frente, uma importância maior na manutenção das conquistas já alcançadas (seu desmonte geraria um retrocesso), sem levar, isoladamente, a novos avanços, quais medidas complementares deveriam ser tomadas?

Nesta hipótese, deverão ser atacados outros pontos que têm impactos diretos na distribuição da renda no país. Um destes pontos é o fundo público em suas duas pontas - a arrecadação e o gasto. Na ponta da arrecadação, implementar um conceito simples: a quantidade de tributo que eu pago deve ser proporcional aos meus rendimentos e bens, com ajustes para os outliers nas duas pontas - de quem não tem rendimento algum e as grandes fortunas. Na outra ponta, a do gasto, priorizar os gastos que levem à equidade na qualidade e no acesso à educação, saúde e trabalho. Exemplos práticos da implementação destes conceitos seria a taxação das grandes fortunas, melhor identificação e taxação de bens móveis, fim de incentivos fiscais para gastos privados em educação e saúde, reformulação dos impostos sobre o consumo.

Outro fator que merece atenção para a redução das desigualdades no país é a concentração da propriedade, tanto rural quanto urbana. No Brasil, a riqueza - bens - é ainda mais concentrada que a renda e está na raiz de sua reprodução. Para continuar avançando, o país deve de maneira séria buscar um equilíbrio entre assegurar a propriedade privada e a função social da propriedade.

As relações entre poder político e econômico também são centrais para a reprodução das desigualdades no país. O poder econômico captura o poder político, que seria a arena para definição dos limites a estes ganhos, que acaba por travar as reformas que de alguma forma prejudicariam estes setores em benefício de uma distribuição mais igualitária das riquezas. O financiamento às campanhas é apenas um dos instrumentos nesta cooptação, mas mexer nesta equação já seria um bom começo.

Por fim, mas não menos importante, convém analisar e rediscutir o papel das diversas organizações de classe no processo de reprodução das desigualdades e sua interligação como um sistema às diversas variáveis. A reação das classes médicas a qualquer proposta que venha minimamente ameaçar o status-quo, como as reações em relação ao Mais Médicos e ao veto da presidenta ao Ato Médico; a reação dos magistrados ao simples questionamento de suas férias e recessos de 60 dias ao ano; a "caciquização" dos partidos políticos e a baixa transparência de seus atos internos; as organizações de servidores públicos e sua lógica interna. Os exemplos são várias e o símbolo que representa de grande relevância.

São questões cruciais e belicosas. São reformas que redistribuiriam rendimentos, riquezas e poder na sociedade brasileira de maneira mais estrutural e assegurariam a continuidade dos avanços nos próximos anos. O que foi conquistado, a população brasileira já absorveu e assimilou. Querem saber quais serão os próximos passos e essa discussão estará no centro das próximas eleições. O dilema está na busca do equilíbrio entre vencer a eleição, o que significa dialogar e fazer concessões ao pensamento conservador, e fazer propostas de reformas estruturantes que permitam ampliar os ganhos da última década, o que significa romper com o pensamento conservador. Porque o povo é sábio: se o objetivo for implementar um projeto conservador, os partidos conservadores estão mais aptos para esta tarefa.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Transgênicos - entrevista com Vandana Shiva

Não sei porque, mas o assunto transgênicos veio à mesa duas vezes nesta semana, uma com Dri e outra em um evento sobre epidemiologia. E de repente, aparece na minha frente, esta entrevista desta senhora que não conheço, mas me foi muito bem recomendada e explicitou o ponto que eu mais prezo: a questão da variabilidade e da liberdade dos agricultores sobre as sementes, patentear sementes, risco do monopólio. Creio que esta seja a questão de fundo. A discussão sobre se transgênico faz mal ou não à saúde me parece uma coisa que dificilmente teremos resposta no curto prazo. Basta lembrarmos do quanto tempo levamos para confirmar que o cigarro fazia mal. E quando elas já tiverem dominado tudo, não haverá opções. Alguém duvida que o monóxido de carbono despejado na atmosfera diariamente pelos automóveis faça mal à saúde? Mas e como é que reverte este modelo?

Mesmo se transgênicos não forem prejudiciais à saúde, seu modelo de negócios e forma de organização sabidamente reduz a variabilidade das espécies. E menos variabilidade significa menos opções de escolha. Ao texto.

http://www.canalibase.org.br/precisamos-deter-o-controle-corporativo-sobre-os-alimentos/



‘Controle corporativo de alimentos precisa acabar’

Natália Mazotte
do Canal Ibase
Nadar contra a corrente por um mundo mais justo parece ser o que move Vandana Shiva, uma das mais respeitadas cientistas e ativistas da Índia. Depois de se formar em física e se doutorar em filosofia da ciência em um país marcado pela forte divisão social e desigualdade de gênero, ela acabou optando por atuar em movimentos de defesa da sustentabilidade ambiental e justiça social e hoje luta até contra gigantes multinacionais como a rede Walmart. “Eu me sentia egoísta por usar meu intelecto só para mim, quando eu poderia usá-lo em defesa da natureza e das pessoas”, explica.
A vontade de compartilhar o intelecto e mudar o paradigma de desenvolvimento ocidental também a levou a escrever mais de dez livros, incluindo “Monocultures of the Mind” (Monoculturas da Mente), “Staying Alive” (Permanecendo Vivos), “Women, Ecology, and Development” (Mulheres, Ecologia e Desenvolvimento). Sua notoriedade alcançou o ápice em 1993, quando recebeu o “prêmio nobel alternativo” Right Livelihood Award, voltado a pessoas que oferecem respostas práticas e exemplares aos desafios mais urgentes que enfrentamos hoje.
Entre a vasta gama de iniciativas que Vandana coordena está a organizaçãoNavdanya, que significa “nove sementes para a diversidade” e tem como finalidade difundir sistemas agrícolas mais sustentáveis, que rompam com o paradigma biotecnológico da revolução verde. Uma das principais propostas da entidade diz respeito à proteção de sementes nativas ou crioulas, ameaçadas pelo uso cada vez mais massivo dos transgênicos. A modificação genética de sementes abre caminho para seu patenteamento, considerado por Vandana uma apropriação corporativa sobre os alimentos. Segundo ela, a pressão de empresas como a Monsanto sobre pequenos agricultores indianos para o pagamento de royalties já levou centenas de milhares ao endividamento e ao suicídio. O Canal Ibase conversou com a ativista para entender melhor por que ela vem concentrando seus esforços nesta frente de luta.
Sementes crioulas. Foto: seedfreedom.in
Canal Ibase: A senhora é formada em filosofia da ciência e se tornou uma grande ativista ambiental. O que a fez mudar de área?
Vandana Shiva: Meu trabalho sobre fundamentos da teoria quântica foi feito com um intuito muito pessoal. Eu me sentia egoísta por usar meu intelecto só para mim, quando eu poderia usá-lo em defesa da natureza e das pessoas.
Poderia nos contar sobre a Navdanya e seu papel na organização?
Eu comecei a Navdanya como parte de um programa da Research Foundation em 1987. Navdanya significa nove sementes para a diversidade. Significa, também, o novo dom, que eu vejo como a recuperação da visão de que as sementes são um bem comum.
Por que as sementes nativas se tornaram uma de suas principais bandeiras?
Em 1984, enquanto estudava em Punjab, percebi que variedades de sementes de alta produtividade da Revolução Verde foram criadas para aumentar a tolerância a produtos químicos, não para produzir comida. Elas promoveram monoculturas. Em 1987, em uma conferência sobre as novas biotecnologias, especialistas falaram sobre como gostariam de modificar geneticamente plantas, a fim de patentear sementes. Patentes de sementes são baseadas na falsa afirmação de que a semente é uma invenção. Elas também acabam por criminalizar os bancos de sementes e suas trocas. Eu vejo isso como deveres e direitos fundamentais. Eles também moldaram o acordo TRIPS da OMC [que introduziu importantes mudanças nas normas internacionais dos direitos de propriedade intelectual]. Foi aí que eu decidi dedicar minha vida para salvar sementes e a liberdade dos agricultores sobre elas.
O que faz uma semente ser considerada nativa?
Uma semente é nativa a um lugar se ela se desenvolveu localmente ou se foi adaptada localmente. Sementes nativas são diversas, de polinização aberta, produzidas por qualidade,  sabor, nutrição e resiliência.
Como identificamos este tipo de semente?
Identificando o que os agricultores plantaram antes da revolução verde e da agricultura industrial.
Como o uso dessas sementes impacta a produtividade agrícola?
Quando a produtividade agrícola é medida no sistema de monoculturas e no contexto da produção de commodities, as sementes crioulas são apresentadas como inferiores. Quando a produtividade é medida em termos de alimentação e nutrição e leva em conta os rendimentos dos agricultores, as sementes nativas produzem mais alimentos por hectare. Nosso Relatório de Saúde provou isto empiricamente.
Quais são os principais riscos associados ao uso de transgênicos?
Existem três riscos principais. O risco do monopólio, o risco ambiental e o risco da saúde pública. Na Índia, desde que o algodão transgênico foi introduzido, 95% das sementes de algodão são controladas pela Monsanto e 270 mil agricultores indianos cometeram suicídio por dívidas. Os OGM (organismos geneticamente modificados) levaram à poluição genética e aumentaram o uso de produtos químicos. Além disso, eles criaram super pestes e super ervas daninhas. Uma pesquisa independente mostrou também que os OGM têm sérios impactos sobre a saúde.
Qual a importância da preservação das sementes nativas para a biodiversidade agrícola?
Precisamos preservar e utilizar sementes nativas para a soberania das sementes, sobre a qual repousa a resistência às mudanças climáticas e a segurança alimentar e nutricional.
Além das sementes nativas, que outros temas têm movido sua atuação nos dias de hoje?
Eu comecei uma campanha global em prol da liberdade das sementes. Vamos continuar nesta luta até que as patentes de sementes acabem. Agricultores brasileiros demonstraram que é possível vencer essa batalha contra o controle corporativo sobre os alimentos, em uma disputa de bilhões de dólares contra a Monsanto. Outras preocupações que eu tenho são referentes a difundir a agroecologia e parar oseqüestro de nossa alimentação e agricultura pela Walmart.
A senhora acredita que a agricultura ecológica pode alimentar 7 bilhões de pessoas? O argumento de que precisamos estimular a agroindústria para assegurar a segurança alimentar (pensamento básico da revolução verde) é uma falácia?
agricultura industrial produz commodities, a maioria dos quais para biocombustíveis e alimentação de animais. 80% dos alimentos que chegam às mesas das pessoas são produzidos em pequenas fazendas. E em termos de produtividade real, fazendas menores, biodiversas e ecológicas produzem mais alimento e nutrição por acre do que fazendas industriais. Esta é a única forma de alimentarmos 7 bilhões de pessoas.
E como deveríamos lidar com a questão da segurança alimentar?
Tomando por base sistemas alimentares biodiversos, agroecológicos e descentralizados.
O atual paradigma desenvolvimentista é um problema para colocar isso em prática?
Sim, e a ideia de crescimento ilimitado em um planeta com recursos limitados é a principal causa da destruição ambiental.
É possível mudar esse paradigma?
Tenho esperanças. O que temos feito na Navdanya me dá esperanças diariamente. Convido seus leitores a nos visitar, participar de nossos cursos na Universidade da Terra. Em setembro de 2013 faremos um curso de um mês sobre agricultura orgânica e agroecologia, vale a pena se informar no nosso site.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Psicologia da desigualdade

Desculpem a publicação em inglês, mas não podia deixar de compartilhar.

Trata-se de uma publicação americana que denuncia semanalmente as questões envolvidas com as desigualdades, crescente nos EUA, sempre tão alta por aqui.

Destaques: "Em qualquer sociedade onde a riqueza e a renda são extremamente concentradas no topo, os influente irão quase sempre "olhar torto" para os serviços públicos e os homens e mulheres que os provêem".

Discussão sobre substituição de escolas públicas por escolas charter, seria análogo a uma OS por aqui.

http://toomuchonline.org/teacher-bashing-the-inequality-psychology/


HOW INEQUALITY HURTS

Teacher Bashing: The Inequality Psychology

In any society where wealth and income concentrate overwhelmingly at the top, the affluent will almost always come to sneer at public services and the men and women who provide them.

By Sam Pizzigati


Chicago teachers rally the Saturday after their September 10 walkout began.
Last year state lawmakers in Illinois did their best to make a Chicago teacher strike impossible. They passed a new law that required at least 75 percent of the city’s teachers to okay any walkout in advance.
How did Chicago teachers respond? In advance balloting early this June, 92 percent of the city’s teachers voted, and 98 percent of those teachers voted to strike if contract negotiations broke down.
This near-total teacher support for the walkout that began last week shows just how intensely frustrated the city’s teachers have become. They’ve been teaching for years in schools woefully ill-equipped to serve the city’s students.
The vast majority of these students, 87 percent, rate as “low income.” Many have no books in their homes and no quiet place to study. Some — over 15,000 — have no homes at all.
Chicago political officials haven’t done nearly enough to help teachers help these students learn. Over 160 Chicago schools have no library. To help homeless and other children in unstable family situations, the 350,000-student Chicago schools have only 370 social workers.
Teachers have consistently called for more resources. But school officials from Chicago mayor Rahm Emanuel on down have totally bought into a “reform” agenda that dismisses concernsabout overcrowded classrooms and inadequate student support. Schools don’t need better resources. They need, Chicago’s self-styled reformers argue, better teachers.
This “reform” stance pushes endless standardized testing to identify “low-performing” schools and teachers who can’t seem to raise student test scores. For over a decade now, Chicago officials have been closing down schools they deem as “failing” and replacing them with privately run charter schools.
In affluent cocktail party circles, a certain casual demonization of teachers has become culturally prevalent.
The Chicago school chief who initially led this charter surge now serves as the U.S. secretary of education, and his test-heavy, charter-leaning approach has become the conventional education reform wisdom within both Republican and Democratic Party elite policy circles — despite a clear absence of evidence that this conventional wisdom actually works for kids.
“If we really wanted to improve schools,” as analyst Melinda Henneberger quipped last week in theWashington Post, “we’d do what education powerhouse Finland does — fund schools equally, value teachers more, and administer standardized testing almost never.”
So why does the conventional education reform wisdom — “get tough” on teachers and the unions that protect them — have such broad support among America’s political elites?
One reason: The conventional wisdom can be unconventionally profitable for the corporate execs who run the rapidly expanding chains of charter schools. At campaign time, these execs love to show their appreciation.
But support for the teacher-bashing conventional wisdom goes well beyond the ranks of those who stand to profit directly from public education’s privatization. In affluent cocktail party circles, as the New Yorker magazine noted last week, “a certain casual demonization of teachers has become sufficiently culturally prevalent that it passes for uncontroversial.”
The well-heeled today, adds the New Yorker analysis, talk about breaking teacher unions “with the same kind of social enthusiasm” usually reserved for recommending “a new Zumba class.” 
Wealthy people royally resent having to pay taxes to support public services they don’t use.
This teacher bashing has been spreading for several decades now, ever since the United States first began growing much more unequal in the 1980s. This linkage should surprise no one. These two basic phenomena — a rich growing richer and a rich growing more hostile to public services and the people who provide them — have always gone hand in hand.
Wealthy people, after all, don’t typically use much in the way of public services. They don’t partake of public parks or public education. They belong to private country clubs and send their kids to private schools, and they royally resent having to pay taxes to support public services they don’t use.
These well-to-do need rationalizations for this resentment, and teacher bashing makes for an ideal one. We don’t need to “throw money” at troubled schools, the argument goes. We just have to find and fire all those lousy teachers.
Interestingly, back in the much more equal United States of the 1950s, we did “throw money” at schools — and plenty of it.
Sign up for To MuchIn 1958, after the shock of the Soviet Sputnik launch, lawmakers didn’t bash teachers. They appropriated billions, through the National Defense Education Act, to strengthen schools. A half-dozen years later, the Elementary and Secondary Education Act vastly expanded funding for low-income students.
In today’s deeply unequal United States, by contrast, our political elites don’t fund, they bash. That bashing, educationally, makes no sense. “Blaming teachers for the failure of schools,” as the New Yorker’s Rebecca Mead puts it, has to be about as absurd as “blaming doctors for the diseases they are seeking to treat.”
But bashing makes sense to the rich. And in a plutocracy, the rich drive the debate — until the rest of us rise up and change the conversation. In Chicago, teachers have now done just that.
Veteran labor journalist Sam Pizzigati, an Institute for Policy Studies associate fellow, writes widely about inequality. His latest book, The Rich Don’t Always Win: The Forgotten Triumph over Plutocracy that Created the American Middle Class, will appear this fall.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Há ou não um conflito de classes?


http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2012/09/05/mais-rica-do-mundo-diz-que-salario-ideal-e-o-africano-de-r-4-por-dia.jhtm


05/09/2012 - 11h12

Mais rica do mundo diz que salário ideal é o africano, de R$ 4 por dia

Do UOL, em São Paulo
Comentários413
A mulher mais rica do mundo e herdeira de um império de mineração, Gina Rinehart, afirmou  nesta quarta-feira (5) que a Austrália está ficando muito cara para as mineradoras e disse que conseguiria contratar trabalhadores na África por menos de US$ 2 por dia (cerca de R$ 4).
“As evidências são inquestionáveis de que a Austrália está ficando cara demais e pouco competitiva para negócios voltados à exportação”, disse Rinehart em uma rara aparição pública no Clube de Mineração de Sydney. Um vídeo com a fala da bilionária foi divulgado no site da entidade.
“Os africanos querem trabalhar, e seus trabalhadores desejam trabalhar por menos de US$ 2 por dia”, disse ela. “Tais números fazem eu me preocupar com o futuro desse país”, disse. “Estamos nos tornando uma nação de alto custo e alto risco para investimentos.”
Rinehart pediu que as mineradoras possam levar trabalhadores estrangeiros para a Austrália, e sua empresa Hancock Prospecting conseguiu aprovação, em maio, para contratar pouco mais de 1.700 funcionários de construção estrangeiros para um projeto no oeste australiano.
A premiê australiana, Julia Gillard, criticou os comentários da bilionária e disse que o país vai bem.
“Não é o costume da Austrália jogar às pessoas US$ 2, jogar a elas uma moeda de ouro e pedir que trabalhem um dia inteiro”, disse Gillard. “Nós apoiamos os salários adequados e condições de trabalho decentes.”

Outra polêmica

Na semana passada, Gina gerou grande polêmica ao fazer piada com os "invejosos", que, segundo ela, passam mais tempo bebendo que trabalhando. Ela também pediu ao governo que diminua o salário mínimo para atrair mais investimentos.
Gina Rinehart, herdeira e presidente do grupo Hancock Prospecting, tem uma fortuna avaliada em US$ 30 bilhões, segundo a revista Business Review Weekly (BRW).
"Se sentem inveja dos que têm mais dinheiro que vocês, não fiquem sentados reclamando. Façam algo para ganhar mais, passem menos tempo bebendo, fumando e brincando, trabalhem mais", completa o texto.


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Brasil na nova balança??

http://institutoalvorada.org/o-brasil-na-nova-balanca


Publicado por  na categoria Política Internacional
Não sou especialista em Relações Internacionais, Comércio Exterior, acompanho superficialmente o tema, apesar de me interessar no assunto. Mesmo assim, causa-me estranheza e um certo incômodo quando leio alguns artigos na linha do que foi escrito pelo jornalista Sérgio Malbergier, que parecem querer pegar uma brecha e colocar na minha cabeça uma idéia que de tanto ser batida, eu acabe considerando verdade.
Texto completo no link acima.
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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Opinião x Fato

Já tem um tempo que a forma com que os grandes jornais noticiam as coisas têm me irritado. Eles exigem de mim uma leitura muito atenta para não cair nas suas armadilhas e diferenciar a notícia da opinião, que cada dia está mais misturado. É como se todos os jornais estivessem armando ciladas e quando você menos espera, está pensando exatamente como eles, de maneira automática sem qualquer reflexão. Transformamo-nos em papagaios, sem menosprezar a inteligência destas aves.

Senti isso na reportagem abaixo, da Folha de São Paulo, sobre a estratégia de comunicação da presidenta Dilma.


Por agenda positiva, Dilma privilegia rádios regionais

Presidente muda estratégia de comunicação e escapa de perguntas sobre crise

Tempo para emissoras foi 10 vezes o da grande imprensa; "Passaram para nós que seria melhor usar as questões positivas", diz radialista


BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

Em meio à sucessão de escândalos em Brasília, a presidente Dilma Rousseff mudou sua política de comunicação para tentar impor uma agenda positiva ao governo.
Desde o início de julho, ela reservou duas horas e 52 minutos a entrevistas para rádios regionais, nas quais driblou a crise para fazer propaganda e prometer obras e benefícios sociais aos ouvintes.
Isso equivale a dez vezes o tempo que dedicou no mesmo período para atender à imprensa diante de gravadores: apenas 17 minutos, fatiados em cinco ocasiões.
O tom chapa-branca das falas no rádio segue orientação do Planalto, que escolhe as emissoras, empresta equipamentos e pede aos entrevistadores que só perguntem sobre temas da região.
"Passaram para nós que seria melhor usar as questões positivas. Dizer o que pode ser feito, e não o que nunca foi feito no Estado", contou o radialista Sérgio Gomes, que entrevistou Dilma pela Caiari AM de Porto Velho (RO).
Ele passou 21 minutos com a presidente na véspera da queda do ministro Alfredo Nascimento (Transportes), mas disse não ter tratado das suspeitas de corrupção na pasta por "falta de tempo".
Naquele dia, Dilma participou de dois atos públicos e não quis falar com os jornalistas de veículos nacionais.
Para Gomes, a Caiari foi premiada por transmitir programas oficiais como o "Café com a Presidenta", às segundas-feiras. "A gente se aproximou do governo na época do Lula. Eles sabiam que podiam confiar na gente."
A experiência agradou e já foi repetida cinco vezes, em Alagoas, Ceará, Pernambuco, Paraná e no interior paulista. As rádios pequenas haviam sido ignoradas nos primeiros seis meses do governo Dilma.

ESTRATÉGIA
Quando a crise nos Transportes estourou, o ex-presidente Lula e outros aliados orientaram Dilma a mudar a política de comunicação e a lançar uma agenda positiva, com mais viagens pelo país.
No entanto, a Secom (Secretaria de Comunicação Social) nega que a estratégia vise driblar as denúncias e poupar a presidente de perguntas incômodas.
A transcrição das entrevistas evidencia o conforto da presidente nas rádios.
"É um prazer estar aqui com a senhora, e é bom a gente deixar claro que não é uma entrevista aqui. É uma conversa, é um bate-papo, não é? Tanto é que tem água aqui, tem café à vontade", disse Luiz Carlos Martins, da Banda B AM de Curitiba (PR).
"É muito bom que seja uma conversa entre nós porque a gente esclarece melhor, né?", respondeu Dilma.
Pouco depois, o radialista anunciou uma pergunta "que muita gente gostaria de fazer": "A sra. está feliz?"
"Quando eu lancei, por exemplo, o programa Brasil Sem Miséria, eu fiquei muito feliz", respondeu ela.
O "bate-papo" ocorreu em 12 de julho, seis dias depois da demissão de Nascimento, cuja pasta foi alvo de acusações de corrupção. Dilma não havia falado sobre o caso e assim permaneceu.
Martins disse à Folha não ter recebido ordem da Presidência para evitar a crise. "Meu jornalismo é popular. Não estou preocupado com esse tipo de assunto."
Duas semanas depois, em Maceió, um radialista da Gazeta -que pertence ao senador aliado Fernando Collor (PTB-AL)- pediu uma mensagem à "mulher alagoana".
"Eu acho que a mulher alagoana tem uma característica que é da mulher brasileira: é uma guerreira", devolveu Dilma. A entrevista ignorou as suspeitas de corrupção no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), tema dos jornais daquele dia.
Há dez dias, em São José do Rio Preto (SP), ela respondeu a perguntas da Metrópole AM sobre futebol. A queda do ministro Wagner Rossi (Agricultura), dois dias antes, não foi comentada.
Em julho, a presidente recebeu repórteres de quatro jornais, incluindo a Folha. Porém, eles não puderam tirar fotos ou gravar as declarações da presidente. Ainda deu entrevista à revista "CartaCapital", mas a Secom não divulgou sua íntegra, como costuma fazer.
Em oito meses de governo, Dilma não deu nenhuma entrevista coletiva tradicional, aberta a toda a imprensa.
FIM.

Buscando exercitar minha veia jornalística, busquei reescrever a reportagem de um jeito que ficasse claro para o leitor o que é notícia e o que é opinião. E ao leitor cabe decidir qual é a sua opinião própria.


Dilma dedica mais tempo às rádios regionais que à grande imprensa

Desde o início de julho de 2011, Dilma dedicou 2 horas e 52 minutos a rádios regionais enquanto dedicou apenas 17 minutos à grande imprensa (Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Veja, IstoÉ, Redes de TV), isso apenas em entrevistas com gravadores, sem contabilizar as outras ações de comunicação do governo.

Os veículos da grande imprensa, este jornal inclusive, acredita que esta ênfase maior nos veículos menores seja uma estratégia para fugir de perguntas incômodas ao governo, notadamente aquelas relacionadas com os recentes acontecimentos, como a demissão de dois ministros por suspeitas de corrupção. Reforça este argumento o fato de que nenhuma das entrevistas tocaram nestes pontos - suspeitas de corrupção - considerados pela grande imprensa, este jornal incluído, como o fato mais importante da atualidade. Além disso, fontes confirmaram que o ex-presidente Lula recomendou que a presidenta começasse a viajar pelo país e colocasse uma agenda positiva.

Um radialista ouvido pelo jornal afirma que a assessoria do Planalto solicitou que fossem abordados apenas temas locais, reforçando a visão deste jornal. Outro ouvido, afirmou que não recebeu nenhuma orientação, mas que ele não se interessa por estes assuntos, preferindo abordar outros em seu tempo com a presidenta.

O governo, ouvido pela Folha, afirma que as rádios locais permitem chegar a um público que está mais afastado e que o governo tem mais o que dizer para além dos fatos relacionados à queda dos ministros. Além disso, afirma que é natural procurar as rádios locais, órgãos de comunicação tão legítimos quanto à grande imprensa.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Reprodução de desigualdades em uma sociedade mais igual?

Em recente editorial do jornal Folha de São Paulo, afirma que “beneficiários de planos de saúde chegam a 46,6 milhões, ou um quarto da população. A bonança econômica dos últimos anos e o crescimento do emprego formal, com a consequente oferta de seguro-saúde aos funcionários, ajudam a explicar o fenômeno. Além disso, o serviço deficiente na rede pública estimula a migração para os serviços particulares.”
Se analisarmos a história brasileira, podemos supor que existem duas tendências principais: 1) a massificação levará a uma redução da qualidade do atendimento dos planos de saúde, em média; 2) surgimento de planos de saúde luxo, voltados a um público de renda mais elevada.
O que muda? O extrato superior continua com um acesso superior aos dos andares de baixo, por meio dos planos de luxo; o andar do meio, com um acesso melhor que o andar de baixo. Com uma lupa mais apurada, poderemos observar uma despesa maior com saúde do andar de cima, para manter seu privilégio; aqueles que subiram para o andar do meio, recebem um atendimento de melhor qualidade que no SUS (embora comece a cada vez mais haver dúvidas sobre isso); aqueles que mantiveram-se no andar do meio, observam uma piora no atendimento de seus planos de saúde, pois quando o andar do meio estava mais vazio, o atendimento era melhor; o andar de baixo observa uma melhora no atendimento do SUS.
Estes cenários tendenciais, para que ocorram, dependem: 1) da omissão do Estado (o mercado se auto-regula) ou; 2) de políticas públicas que reforcem este modelo (políticas regulatórias fracas e compartilhamento dos custos dos planos privados, retirando recursos do sistema público, que já ocorre com os abatimentos do Imposto de Renda e compartilhamento de infra-estrutura) ou; 3) do fracasso de políticas públicas regulatórias; da baixa qualidade dos sistemas públicos de saúde.
A questão que fica é: como evitar este cenário e garantir um acesso à saúde de qualidade a todos? Ouso esboçar algumas linhas gerais. A primeira, e mais óbvia, é fortalecer a regulação do mercado de planos de saúde, de modo a assegurar preço e qualidade. Desta maneira, não se trata de mão invisível do mercado, mas de mão visível e pesada do Estado; a segunda é resposta à pergunta: como fazer com que esta quantidade de renda adicional direcionada pelas famílias à saúde gere uma melhora na qualidade do atendimento do sistema público de saúde? Para que haja transbordamento, vislumbro três: 1) assegurar que os planos privados realizem investimentos para elevar a capacidade de atendimento da rede privada; 2) criar mecanismos para que a capacidade adicional de atendimento seja compartilhada com o sistema público (criar um mecanismo estilo ProUni da saúde, por exemplo); 3) não permitir que os planos privados sobrecarreguem o setor público, direcionando atendimentos para a rede pública; 4) reduzir gradualmente os abatimentos de impostos de pessoa física, de modo a direcionar maior parcela deste maior gasto com saúde da família para o sistema público.
Essa discussão pode ser feita na educação básica também, inclusive com maior aprofundamento nos dados. Em meados do século passado, a escola pública era considerada de qualidade, atendendo, no entanto, ínfima parcela da população. Com a universalização do acesso, observou-se uma redução da qualidade, com a ida dos mais abastados para a escola privada.
Com o aumento da renda, observa-se um aumento nas matrículas em em escolas particulares, elevando substancialmente de instituições que oferecem educação, com qualidade cada vez mais duvidosa. O andar de baixo continua na escola pública, o andar do meio na privada, com aqueles que acessaram agora recebendo uma educação de melhor qualidade da que recebia na pública (em muitos casos, ainda insuficiente para gerar um ascensão social); aqueles que estavam no andar do meio acreditam estar recebendo uma educação de pior qualidade; e o andar de cima vai para colégios de elite, de mensalidades caríssimas e com vagas muito disputadas.
São hipóteses que merecem um aprofundamento, mas são bem plausíveis, dada a tendência brasileira de manutenção e reprodução de desigualdades e, quando a desigualdade de renda diminui, quais os mecanismos passam a ser o replicador destas desigualdades. Passaremos a observar no Brasil, com mais frequencia, as formas de distinção observadas nos países desenvolvidos e bem relatada por Pierre Bourdieu em seus estudos sobre a sociedade francesa, entre as classes médias brasileiras?

domingo, 3 de julho de 2011

Saideira

Após comer todo alho do mundo, encontro-me desesperado por um chiclete. Paro em um quiosque ao ver a prateleira de chicletes, porém sem chicletes.
- Acabaram-se os chicletes? - pergunto utilizando a norma culta do português para não ferir nenhum tipo de suscetibilidades.
- Não, responde o gajo e retorna aos seus afazeres, deixando claro que aquela conversação já estava finalizada.
Vendo que eu não saía, pergunta-me.
- Queres algo, pá?
- Um chiclete.
- Não tem.
Diante da minha perplexidade, continua:
- Ah, eles não acabaram. Eu cá não tenho já tem muito tempo.
Ê pá!!! O que significa em português do Brasil "tá tirando uma com minha cara, folião?". Essa parte eu só pensei. Agradeci, com um sorriso irônico, e me fui.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Fica sempre um pouco de perfume

O perfume

Na ida para Madrid não sei por que motivo a segurança do aeroporto de Lisboa estava reforçada e eles estavam verificando com rigor a presença de líquidos na bagagem de mão. Por míseros 25ml, disseram-me que meu perfume não iria embarcar. Argumentei que o frasco não estava cheio e que, de líquido efetivo havia muito menos que 100ml. Em vão. Cheguei a pensar em novas linhas de argumentação, dizer que aquele perfume não representava uma ameaça à paz na Europa, que havia muito sentimento ali, que grandes momentos de minha vida pregressa tinham tido, ao fundo, aquele cheiro, e começar a chorar copiosamente, mas o português e toda a fila de portugueses atrás de mim fizeram-me admitir que este não era o caminho.

Desconhecedor que era dos frascos de perfume que tinham algum pedigree, fui atrás da segunda alternativa: obter um frasco de 100ml e despejar o precioso líquido nele e embarcar rumo a Madrid. Não encontrava e mais uma vez senti falta do empreendedorismo de necessidade vigente no Brasil. Certamente eu não seria o primeiro a passar por este tipo de situação. Encontrei em uma farmácia, naquele preço de aeroporto (por que a eles não se aplica o mandamento divino do "não roubarás"?). Comprei e lá fui fazer a transferência. E rosqueia daqui, rosqueia de lá, e nada. Uso a força. Nada. Óbvio, se você fosse o fabricante de um perfume, para que você iria facilitar a vida daqueles que quisessem colocar outros líquidos em seu frasco? Para incentivar a falsificação? Desprovido de ferramentas adequadas e de tempo, eu jamais abriria aquele frasco. Juro, mas nego, que passou pela minha cabeça borrifar 70ml de perfume no recipiente dentro das normas internacionais recém adquirido. Com um cálculo rápido, vi que levaria 8! (exponencial) horas.

Perdi, pensei. Vou doar para alguém, mas não posso facilitar. Fui ao banheiro e posicionei o perfume em baixo da privada, na maneira mais escondida possível. Na volta, se alguém tiver encontrado, provavelmente será um trabalhador da limpeza ou algum paranóico que tem certeza que há bombas embaixo de todas privadas. Neste caso, meu perfume seria detonado. Se ninguém encontrar, passo na volta e pego.

Fui a Madrid, conformado. Rasgar dinheiro estava sendo minha especialidade até então. Detalhe: esqueci de passar na volta e verificar, pois saí correndo para conseguir ver o segundo tempo do jogo do Real Madrid, na liga dos campeões. Este dia era uma Terça-feira.

Na sexta, fui ao aeroporto para ir para Zurique. Apenas para me certificar, fui ao banheiro onde havia deixado o perfume. Sinto um cheiro agradável, diferente. Não é possível, será? Inacreditavelmente, estava lá. Usei minha grande bagagem da língua espanhol, quando me apercebi que não poderia levá-ló a Zurique, pelo mesmo motivo que ele não foi a Madrid: la puta madre!

A esperança de ser uma pessoa cheirosa novamente estava de volta. Será que tento embarcar? Ou arrisco deixar mais um fim de semana? Mudo de cabine? Mudo de banheiro? A probabilidade de alguém encontrar é cada vez maior quanto mais o tempo passa. Lembrei-me de aí quando jogo baralho, caxeta (pif-paf), sempre que mudava a carta do bate, eu perdia. Lembrei-me também do contrário, de todas as vezes que não mudei o jogo e a carta que seria a da batida se eu tivesse mudado o jogo aparece no monte na rodada seguinte. Resolvi não mudar o jogo e deixei exatamente onde estava.

Segunda-feira, lá vou eu ao banheiro, olho no lugar do perfume e a única coisa que encontro é um bilhete: "Foi um prazer servi-lo, meu querido. Aquele abraço, Murphy".

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Futebol

Hoje foi a segunda partida de futebol que jogamos com os portugueses. Na primeira oportunidade, eram três times, a turma portuguesa, do mesmo curso que a gente, da manhã e da tarde, e a nossa equipe, formada pela arqueiro, guarda-metas, guarda-redes, goleiro, mexicano Emílio Raul, que de pronto se dispôs a jogar no gol, livrando-nos desta árdua tarefa; Marcos, brasileiro, mineiro morador de Brasília; Edson, peruano, mais conhecido como grande guerreiro inca, representante da garra sul-americana e portador de um carrinho que felizmente, para os portugueses, ele utiliza com moderação, embora tenha aberto a caixa de pandora no final do jogo e, por sorte, estava no final; Francisco, brasileiro, carioca, pivô  artilheiro; Daniel, equatoriano "sí se puede", lateral direito, esquerdo, meio-campista e atacante; e eu, versão paz e amor.

No primeiro jogo, contamos no final com a contribuição de Jesus, também peruano, e Óskar, moçambicano. Ambos têm problemas com horário e devem estar indo agora (uma da manhã) para a pelada das 19h. Eram três times neste dia, jogamos três partidas de dez minutos, perdendo uma e empatando duas, sendo que as partidas que empatamos saímos ganhando de 3x0 e cedemos o empate.

Na torcida, contamos com o apoio de Rossana, Cláudia - presentes nos dois jogos e puderam, desta forma, apreciar a evolução do futebol - e Kelly, Miriam e Alejandra, para o segundo jogo.

Um resumo da partida foi melhor feito pelo nosso arqueiro, Raul, em e-mail encaminhado no dia seguinte, a qual tomo liberdade de publicar neste espaço, versão original.

"Felicidades 5CADAPI!!!!, por haber hecho un juego de futebol divertido y limpio, pero sobre todo entusiasta contra el equipo de Portugal del INA, fue muy emocionante siempre el espíritu combativo del guerrero Inca, a pesar de que Edson estaba lesionado siempre mantuvo el paso firme para anotar varios goles.

Por otro lado Rogerio, no se dejó amedrentar por el equipo contario y se desempeñó bien tanto a la ofensiva como en la defensiva, quien con varios pases de Francisco anoto un par de goles, es importante decir que Francisco siempre fue un pilar a la ofensiva, nadie lo podía moverlo de su lugar!!!! Y siempre mantuvo una posición siempre estable no salía de sus 2 mts cuadrados de cancha, pero eso si como un buen comandante veía al frente y dotaba de extraordinarios pases.

El teniente coronel Marco, subía y bajaba como un chamaco de 15 años, que bueno que no toma cerveza!!! pues con las coca-colas se ve que tiene mucha energía, pues siempre lo vi correr y jugar como el mismísimo Ronaldo, que digo, como Pelé.

Claro que la batalla fue intensa, Edson lesionado pero nunca caído y junto a Daniel quien agotado,  pero eso sí, siempre caballeroso!! Pues llevó a a las chicas, Rossana y Claudia por las bebidas espirituosas mientras nosotros jugábamos con un elemento menos, y total ni bebidas trajeron.

Cuando todo parecía perdido, llegaron como de la nada, Oskar y Jesús muy agitados, ellos dijeron que venían corriendo ¿???, Pero bueno llegaron a relevar al caballeroso Daniel y al Lesionado guerrero Inca: Edson; así entró Jesús y en su primer balón se acalambró la pierna derecha, pero insistió y siguió corriendo entonces tocó su segundo balón, fue entonces cuando se le acalambró la pierna izquierda; que bueno que tiene cuatro piernas pues no le importó y  siguió jugando como chamaco de 20 años.

Los portugueses no sabían que habíamos importado a un jugador estrella desde Mozambique, Oskar con cara de inocente les pegó dos que tres patadas a las espinillas a los portugueses, pues no estaba dispuesto a dejarse intimidar.

Lo que más se resalta en esta crónica es la labor de la porra, pues solo eran solo Claudia (sin cena y con hambre) y Rossana que eran las únicas que gritaban y apoyaban al 5°CADAPI , pero ellas, sí solo ellas opacaban a las 7 u 8 portuguesas que apoyaban al equipo contrario; a Rossana le salía un apoyo desde muy adentro algo así como un Ultrasonidoa!!!!!, y decía …. arriba piri-piri!!! Y las portuguesas ojicuadradas solo callaban y murmuraban: moito bom, moito bom!!! el apoyo Salvadoreño-ecuatoriano fue implacable con el espíritu de las porristas portuguesas.

Ah, se me olvidaba también hubo portero, jejeje"

O segundo jogo, realizado nesta quarta-feira, foi com apenas uma das turmas - duas equipes apenas, por uma hora de jogo. Combinamos no café e o convite para o jogo, feito por um dos jogadores portugueses, foi feito pelo e-mail que replico abaixo, sem identificar o autor, dado que não lhe pedi autorização. Este é o lirismo português, aludido por Chico Buarque em seu fado tropical.

"Companheiros,

Temos mais um desafio para superar. Desta vez o desafio vem do outro lado do mundo, e o jogo é o futebol 6.
No campo do costume ou num outro uns metros acima, seremos colocados à prova, mais uma vez.
Quando? Se houverem 6 bravos jogadores a dar o passo em frente, será já amanhã, às 20h30.
Confirmações por e-mail ou pessoalmente, até às 15h00 de amanhã.
Grande abraço a todos e desejos de boas aulas / férias / praia !!!!"

Conseguiram 6 bravos jogadores, não mais, não menos. Parêntese necessário: os portugueses são muito boa gente, nos receberam muito bem, jogaram limpo em todos os momentos e, a meu ver, só roubaram em um lateral em que eu vi que a bola bateu, mas ele disse que não. Nunca fui de brigar por lateral mesmo, então deixei cobrar.

Para esta partida, contamos com o reforço do André, filho mais velho do Marcos. O princípio foi arrasador, fizemos 5x0 em 15 minutos de jogo, com direito a cada um dos jogadores perder cada um pelo menos uma oportunidade clara de gol. Os portugueses equilibraram o jogo, mas mantivemos essa diferença por todo o jogo. Faltando 5 minutos de jogo, Marcos deu lugar ao seu filho mais novo, o pequeno Gabriel, de 12 anos, que foi para o ataque. O menino é marrento, queria ficar dando rolinho, driblar, um pouco fominha. Falou para jogar nele que ele resolve. Fez dois gols - um embaixo da linha que ele, ingrato, nem agradeceu o passe deste que vos escreve - e o segundo, um bonito gol, que ele tocou no canto direito do goleiro após receber um passe dentro da área. Por fim, ele trombou dentro da área com o zagueiro que tinha duas vezes o seu tamanho e, como este estava um pouco desequilibrado, levou a pior e caiu no gramado. Gabriel, em uma mostra de que também joga limpo, pediu desculpas e ajudou o zagueiro levantar-se. Logo em seguida, apito final. Nas nossas contas, ficou uns 10x5 ou mais. Na deles, 9x7. O resultado não é muito o que importa, o que vale é suar a camisa.